Mesmo que um ciclo de recuperação econômica comece a bater na inflação e force o Comitê de Política Monetária (Copom) a voltar a subir o juro básico, o Brasil tem condições de manter a Selic em um dígito, segundo economistas que participaram de evento do Modalmais.
Sob as condições atuais, o PIB potencial não passaria de 1,5%, mas o Brasil tem um intervalo de dois a três anos para tentar avançar em outras reformas e não se preocupar com isso, comentou Luiz Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC.
“O país tem espaço para arrumar a casa antes que se torne impeditivo continuar crescendo. A taxa de juros [baixa] torna viável investimentos que antes não eram e essa é uma discussão importante dado que a infraestrutura é primordial. Sem isso, talvez a economia piore (…) dependendo de quanto ficar para trás, pode ter gargalos efetivamente”, comentou.
“Se o país não tivesse passado por uma recessão, nosso sistema de distribuição de energia ia aguentar? Teríamos estradas para escoar a safra? Não sei. O juro baixo incentiva a vinda de capital local e estrangeiro para esse tipo de investimento, isso é fundamental.”
Para Leal, o Brasil só voltaria a ter taxas de juros de dois dígitos se houvesse uma catástrofe. Com a possibilidade de a inflação se estabilizar perto de 3,5% no curto prazo, uma mudança de ciclo monetário levaria a Selic, no máximo, para a casa dos 7% ou 8% na hora que o BC tivesse de reverter os estímulos.
O Brasil pode rodar com um PIB potencial maior, na casa de 2,5%, se aumentar a competitividade e abrir mais a economia, na visão de Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. “Diferentemente de outros emergentes, o Brasil é muito fechado. O governo Bolsonaro tinha a promessa de nos 100 primeiros dias fazer uma série de medidas de abertura comercial e isso ficou na gaveta. Abrir a economia mexe com muitos lobbies no Congresso.”
Para ela, é justamente quando a economia está crescendo ciclicamente que é hora de fazer a abertura. Se a expansão da atividade esbarrar em gargalos, a Selic poderia subir a 8% ao ano, mas se acomodando perto de 6% ou 6,5% com o aumento do PIB potencial. Solange acrescentou ver a agenda de privatizações em ritmo aquém do esperado e que um dos principais riscos para a história de Brasil é o crescimento não aparecer.
“Se mesmo com a agenda liberal o país não crescer a 4%, esse próprio governo pode tentar expandir o fiscal, voltar com os bancos públicos, esse é o medo que persegue o mercado financeiro.”
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