Crédito rural a juros livres ganha cada vez mais competitividade

Fonte: Valor Econômico Publicado em

O crédito rural com juros livres começa a ganhar espaço na safra 2019/20, refletindo a queda da Selic, a decisão do governo de reduzir subsídios aos grandes produtores e uma maior disposição dos bancos privados de avançar em um dos setores mais dinâmicos da economia do país. Para os produtores de menor risco, já se veem operações com taxa de 6,5% ao ano – menores, portanto, que o teto de 8% previsto nas operações com juros regulados do Plano Safra.

Embora sejam situações ainda pontuais, essas operações mostram um movimento que será cada vez mais frequente com a taxa Selic em queda. Anteontem, o Banco Central cortou os juros básicos para de 6% para 5,5% ao ano.

“As instituições financeiras estão muito agressivas em liberar crédito para o grande produtor, que ficou com o cobertor mais curto”, disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao Valor.

Em julho e agosto, os dois primeiros meses da safra atual, foram emprestados pelos bancos R$ 5,4 bilhões a taxas de mercado. O volume ainda é pequeno, mas é mais que o dobro do que se viu no mesmo período do ano passado.

Em comparação, os desembolsos com juros regulados no primeiro bimestre da safra atual totalizaram R$ 35,1 bilhões, uma queda de 1%. Desse total, chama a atenção a redução de 32% nos desembolsos de crédito para custeio agrícola que têm como funding os depósitos à vista. Entre julho e agosto, foram R$ 9,8 bilhões nessa modalidade.

A maior parte dos recursos usados hoje no crédito agrícola vem do direcionamento dos depósitos à vista e da poupança rural. Nessas operações, reguladas pelo governo, as taxas ficam em até 4,6% ao ano para a agricultura familiar, 6% para os médios produtores e chegam a 8% ao ano para os grandes. “Nos recursos livres, as taxas dependem da análise do perfil do cliente. Mas o custo começa na Selic e o spread varia conforme as garantias”, diz Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do Santander.

Por isso, se antes esse dinheiro era complementar ao crédito que os produtores obtinham no mercado direcionado, hoje ele começa a competir de igual para igual – e, em alguns casos, ainda raros, com vantagem. “Os juros do crédito direcionado e do livre estão encostando”, afirma Roberto França, diretor de agronegócios do Bradesco.

Além da Selic mais baixa, o comportamento do crédito agrícola também reflete a estratégia do governo para o Plano Safra 2019/20. Estão previstos R$ 222,7 bilhões para a temporada. O volume é parecido com o de 2018/19, mas os financiamentos a juros controlados foram reduzidos em R$ 36,3 bilhões. A estratégia do governo é reduzir os subsídios reservados aos grandes produtores e concentrar os benefícios aos pequenos, no âmbito da agricultura familiar.

De olho nesse mercado, os bancos privados estão ampliando as estruturas para avançar no agronegócio, já que vêm se tornando mais competitivos. O que está em jogo não é a liderança do mercado, dominado com folga pelo Banco do Brasil, mas ganhar espaço no setor mais relevante da economia. Santander, Bradesco e Itaú Unibanco têm investido em estruturas para atender não só grandes produtores – que já são clientes importantes – mas também pequenos e médios. Está no radar ainda avançar no crédito à pessoa física, em que a fatia do BB chega a 60%.

Para atrair essa clientela, os bancos privados têm se empenhado em tirar o terno e gravata e se embrenhar no campo – o que vai da abertura de postos de atendimento específicos à contratação de engenheiros agrônomos. No Bradesco, o crédito com recursos direcionados já representou 80% da carteira rural, e atualmente está em 50%. No Santander, a proporção caiu de 90% para 25%.

 

Leia a matéria na integra