Governo separa ‘PIB público’ e ‘PIB privado’ para tentar mostrar que economia vai bem

Fonte: Folha de S. Paulo Posted on

Na tentativa de mostrar que a economia do país vai bem, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República apresentou em suas redes sociais um recorte do PIB (Produto Interno Bruto) que não é usado pelo IBGE.

A estratégia é questionada por especialistas. A Presidência afirma que o PIB privado cresceu 2,75%, enquanto o PIB público recuou 2,25%.

A publicação, que cita o Ministério da Economia como fonte, afirma que no modelo adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Estado deixa de ser protagonista e dá espaço à iniciativa privada.

Nesta semana, o IBGE divulgou o resultado do PIB do ano passado, que teve alta de 1,1%. O dado veio menor do que o projetado inicialmente pelo mercado e pelo governo e consolidou 2019 como o terceiro ano seguido de fraco crescimento da economia.

A publicação da Secom afirma que o resultado “fica abaixo do índice de mentiras de quem torce contra o Brasil” e que o recuo do PIB público é “bom pro Brasil”.

De acordo com a professora de Economia da USP (Universidade de São Paulo) Laura Carvalho, a conta feita pelo governo não é reconhecida pelo IBGE e não é feita por outros órgãos estatísticos no mundo. “Isso fere os princípios básicos do conceito de PIB, que exige que se trate a economia como um todo”, disse.

A economista afirma que a conta é ideológica e traz problemas metodológicos.

Essa separação cria distorções, segundo ela, porque, muitas vezes, bens produzidos pelo governo são consumidos pelas famílias. Produtos de empresas também são usados pelo governo, como na compra de medicamentos pelo SUS, por exemplo.

Outro problema, para a pesquisadora, estaria no fato de o cálculo do governo incluir investimentos de estatais na conta do setor privado.

A professora também questiona o argumento do governo de que o crescimento privado está substituindo o setor público.

“Não é que houve uma alocação melhor de recursos. É simplesmente que o governo está com menos recursos e está investindo menos, gastando menos com infraestrutura. Isso não tem de ser celebrado”, afirmou.

O cálculo também foi criticado pelo economista da FGV e ex-secretário de Política Econômica Manoel Carlos Pires. Para ele, a divisão entre PIB público e privado não faz sentido.

Além de questionar pontos metodológicos do cálculo, ele ressalta que o esforço do governo atual em fazer reformas ainda não é sentido nas contas.

“Os frutos desse esforço ainda vão demorar um bocado para aparecer. Entendo que exista uma tentação para mostrar resultados, mas é preciso tomar cuidado”, afirma.

Em nota, o Ministério da Economia disse que o fato de o IBGE não calcular esse indicador não tem relação com sua validade e que os conceitos de PIB público e privado, apesar de menos difundidos, não são novidade em análises macroeconômicas.

“A SPE se baseia em estudos técnicos e refuta qualquer afirmação de que seu corpo de analistas elabore indicadores não amplamente fundamentados na teoria econômica”, diz a nota.

Pelo Twitter, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, rebateu as críticas ao afirmar que apresentações de outras gestões do ministério e também do Banco Central usavam o conceito de PIB privado.

O diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente), Felipe Salto, afirma não ver o cálculo como um grande problema, considerando que é “um exercício feito pelo ministério”.

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