KPMG: As compras de final de ano na nova realidade do varejo

Fonte: KPMG Publicado em

 *Por Fernando Gambôa

            A pandemia da covid-19 mudou bastante a forma como nos relacionamos com as marcas, como pesquisamos os produtos, como compramos  e seguramente isso terá impacto nas tradicionais compras de final de ano, tanto naquelas relacionadas com a Black Friday, que já deixou de ser praticada em um único dia, passando para ações promocionais ao longo do mês de novembro, como nas compras para as festas de final de ano. Enquanto alguns varejistas terão sucesso com o novo formato de consumo que foi imposto pelas restrições de circulação e isolamento social, que retomam com força em alguns países ao redor do mundo que enfrentam uma segunda onda da covid-19, outros vão seguir considerando essa dinâmica um tanto quanto complicada. 

            Para analisar melhor o cenário global, no ano passado, enquanto mais de 3,5 milhões de pessoas lotavam as ruas no desfile do dia de ação de graças em Nova Iorque, os varejistas de todo o mundo estavam se preparando para mais um período histórico de compras para as festas de final de ano. Desde a Oxford Street, em Londres, passando pela Champs-Élysées, em Paris, pela Causeway Bay, em Hong Kong, até as diversas ruas de comércio popular espalhadas pelo Brasil e outros países da América do Sul, os comerciantes davam as boas-vindas às multidões. Este ano, devido à pandemia, isso não será possível acontecer, pois, provavelmente as ruas tradicionais de compras estarão enfrentando medidas para conter aglomerações, bem como as lojas estarão operando com capacidade reduzida de acordo com os protocolos de segurança vigentes. 

            Considerando as medidas atuais sanitárias e de segurança vigentes em todo o mundo, ninguém espera que os varejistas atraiam as filas de clientes do passado. Pior do que isso, os dados divulgados recentemente, nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Brasil, sugerem que o número de pessoas que entrarão nas lojas pode despencar consideravelmente. Essa é uma ótima oportunidade para os varejistas utilizarem ferramentas digitais, visto que dados do ano passado relacionados com o período de festas de final de ano, mostraram uma grande preferência pelas compras online em dias-chave como a Black Friday e em 26 de dezembro, um dia após o Natal. Hoje, com a retomada e endurecimento de medidas restritivas de circulação e aglomeração, o consumidor está inclinado e até forçado a realizar a maior parte de compras digitalmente, e é óbvio que neste cenário, as grandes marcas do comércio eletrônico serão beneficiadas e saem ainda mais fortalecidas.

            O desafio mais perceptível dos varejistas continua sendo em como lidar com a troca acelerada do canal físico para o digital. Alguns podem esperar que as vendas vinculadas com comércio eletrônico dobrem este ano, em comparação com 2019, porém nem todos terão a capacidade digital, começando pelo atendimento dos pedidos ou com o serviço de atendimento aos clientes, para lidar com os picos de demanda esperados nos canais digitais. Aqueles que não dispõem ou que não dominam sofisticadas ferramentas digitais de forma efetiva, certamente terão dificuldade para passar por esse período.

            As medidas de restrição fazem com que o lar volte a ser o principal centro de convivência e bem estar. Neste contexto, marcas que oferecem produtos como móveis para home office, artigos para reforma da casa, decoração, equipamentos de ginástica e roupas de esporte podem esperar um ano excepcional. Em alguns casos, a demanda já ultrapassou a oferta. Com isso, encontrar maneiras de concretizar a venda de itens que poderão só ser despachados muito depois dos feriados exigirá soluções criativas por parte de alguns varejistas, bem como boa vontade por parte dos consumidores em aceitar esta condição

            Já para os comerciantes de produtos alimentícios e artigos domésticos, a maior preocupação na época de festas de final de ano são os gargalos na capacidade de estoques e os produtos perecíveis. A demanda por tais produtos, considerado essenciais, permaneceu extraordinariamente alta desde o início da pandemia, levando alguns países como o Brasil a terem alta na inflação motivada por aumento nos produtos básicos de consumo. Os requisitos de distanciamento social significam que as lojas somente podem operar com parte do espaço físico e os esforços recentes para expandir os serviços de entrega em domicílio sugerem que não há capacidade de atendimento nos picos de demanda, como em vésperas de feriado. Muitos estão rapidamente estruturando serviços de compra online para retirar na loja física, além de procurar por maneiras de convencer os clientes a comprar os produtos não perecíveis mais cedo. No Brasil, existem várias iniciativas em que marcas estão incentivando a compra antecipada por meio de descontos, tentando suavizar os picos de demandas que são tradicionais no final do ano.

       Aqui no Brasil e na América do Sul, há três fatores que praticamente todo varejista terá que focar para conseguir lucrar durante o período de festas no Brasil. Entre eles, está o reforço na capacidade de atendimento de pedidos, principalmente no tocante à logística de entrega domiciliar. Outros dois estão relacionados à experiência do consumidor que mudou bastante nesta pandemia e o outro ao alinhamento de ações de curtíssimo prazo especificas para o período de festas com uma estratégia rentável e sustentável de longo prazo. No entanto, as constatações sugerem que essas atividades tradicionais das festas de final de ano continuarão como lembranças importantes de uma era de compras que já passou. Tudo mudou. É fundamental que os varejistas se preparem!

*Fernando Gambôa é sócio-líder de consumo e varejo da KPMG no Brasil e América do Sul.

 

Saiba mais

Talvez você gostaria de ler também

\

KPMG: acordos do Brasil com a Bolívia e o Peru vão facilitar comércio com esses países

O Brasil assinou, recentemente, Acordos de Reconhecimento Mútuo (ARM) com a Bolívia e com o Peru como forma de facilitar o comércio com esses países. Dessa maneira, os critérios adotados entre eles devem ser iguais ou semelhantes aos empregados pelas nações que já implementaram o Programa Brasileiro de Operador Econômico Autorizado (OEA). Segundo o sócio[…]

Saiba mais

Aumenta número de fusões e aquisições no setor hospitalar, aponta KPMG

O setor de hospitais e laboratórios de análises clínicas fechou o semestre deste ano com 31 operações de fusões e aquisições. Desse total, no primeiro trimestre, foram concluídas 11 transações e no segundo foram 20. Já nos primeiros seis meses do ano passado, foram finalizados 29 negócios. Os dados constam na pesquisa de fusões e[…]

Saiba mais

Confira os Resultados da Pesquisa de Fusões e Aquisições 2020 da KPMG

A KPMG CORPORATE FINANCE realiza a Pesquisa de Fusões e Aquisições no Brasil desde 1994. Pioneira no gênero, a pesquisa tornou-se referência na economia brasileira, sendo utilizada por empresas públicas e privadas, instituições financeiras, universidades, órgãos governamentais, entre outros, que se beneficiam desta publicação da KPMG para o desenvolvimento de seus estudos e seus negócios.[…]

Saiba mais

Maioria dos CEOs espanhóis confiam no crescimento de suas empresas, diz KPMG

Um terço (32%) dos CEOs espanhóis estão mais otimistas com o crescimento da economia global nos próximos três anos, mesmo número do que estão mais pessimistas (32%) e indicador semelhante (37%) aos que estão com o mesmo otimismo, na comparação das expectativas apresentadas em janeiro e fevereiro com o que foi apurado em julho e[…]

Saiba mais