O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra Fernandes, disse ontem que as perspectivas começam a ficar mais positivas para inflação, mas que o cenário ainda não permite que se vislumbre o início da reversão do ciclo de aperto monetário. De acordo com ele, o ciclo parece estar chegando ao fim, mas as decisões dependem da evolução dos dados.
“Olhando para frente, acho que a gente começa a ter uma cara mais positiva de inflação, espero que antes dos pares. Agora, pensar em distensionar a política monetária é uma etapa que está lá na frente. A gente precisa primeiro ver o efeito do que a gente fez”, disse em evento organizado pela Câmara Espanhola, em São Paulo.
Serra acrescentou que o ciclo parece estar chegando ao fim, mas que se a realidade impuser um cenário mais negativo a autoridade monetária poderá alongá-lo um pouco mais.
Neste mês, o BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, e afirmou ver “como provável” um novo aperto em junho, em magnitude menor. Na ata do encontro, reforçou que aposta nos efeitos defasados de política monetária para levar a inflação e as expectativas para a meta em 2023.
Analistas do mercado financeiro estão ponderando as chances de o BC adotar a estratégia dos juros altos por muito tempo para combater as pressões inflacionárias mais recentes, em vez de levar a Selic muito acima do nível atual. Na segunda, Serra disse que o BC procura evitar flutuações na taxa, embora nem sempre consiga.
Ontem, o diretor frisou que os efeitos da alta dos juros ainda não são plenamente palpáveis. Ele lembrou que o processo de ajuste foi feito de forma intensa e rápida, mas que, até o segundo semestre do ano passado, a política monetária ainda estava em campo estimulativo. E voltou a dizer que a partir do segundo semestre os efeitos do aperto serão mais sentidos, aqui e no mundo.
Serra deu ênfase ao cenário internacional desafiador, mas disse acreditar que os bancos centrais estão engajados e equipados para fazer o trabalho de trazer a inflação de volta para a meta. Para ele, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e outros BCs de países desenvolvidos “entraram no jogo” para lidar com o excesso de demanda global. O diretor disse não ver sinais de que o Fed esteja disposto a acomodar a política monetária. “A demanda lá é por controlar a inflação.”
Serra frisou que para a condução da política monetária local é importante que a inflação global caminhe para cerca de 2% e que, acima disso, é possível que os modelos não funcionem tão bem. Ele acrescentou, no entanto, acreditar que os BCs estão perseguindo suas metas.
Questionado sobre as pressões fiscais no país, especialmente em ano eleitoral, ele disse que, no momento, o teto de gastos está “apanhando de todos os lados”, mas que após novembro será preciso deixar clara a existência de um instrumento que indique a direção do fiscal.
“Agora, o esporte nacional é bater no teto, mas em breve acho que vai ficar claro que, seja ele ou alguma coisa ligeiramente diferente, a gente vai precisar de alguma meta fiscal que enderece a direção para frente, que reduza a incerteza fiscal que pesa sobre o preço de ativos”, disse.