Evento da AME/CDD busca desmistificar as escolhas para abordar estes temas nos meios de comunicação
Você abre o jornal, entra em um site de notícias, assiste a um programa jornalístico, escuta o rádio: o que é dito sobre pessoas com deficiência? É uma narrativa que considera a humanidade dessas pessoas, ou apela para a pena, beirando o coitadismo? E quem são os profissionais nas redações, equipes de veículos de imprensa e por trás dos perfis de influenciadores que você segue: são pessoas com ou sem deficiência?
Para refletir sobre essas questões, a AME e a CDD organizam no dia 17 de novembro o Café com Jornalistas dentro da 6ª edição do Fórum Atores da Saúde. Este café virtual com a imprensa buscará desmistificar a linguagem utilizada nos meios de comunicação sobre doença crônica e deficiência, abrindo espaço para perguntas e troca de informações. Como convidados deste bate-papo, participarão jornalistas do segmento da saúde.
O capacitismo ao falar de pessoas com deficiência e doenças crônicas
Capacitismo é o preconceito e a discriminação contra pessoas com deficiência, entendendo esses indivíduos como pessoas menos capazes em todas as esferas de sua vida, desde o estudo, trabalho, relações com amigos e familiares, etc.
Na visão de Vitória Bernardes, psicóloga, representante da AME/CDD no Conselho Nacional de Saúde e integrante do time de Comunicação da AME/CDD, “a ideia de incapacidade destinada aos nossos corpos é a regra e não é exceção” na imprensa. Ao contar histórias de pessoas com deficiência e doenças crônicas, são inúmeras as matérias que usam e abusam de estereótipos sobre quem são e o que é esperado desses indivíduos. Vitória destaca que é comum tratar a deficiência e a doença crônica como uma questão individual daquela pessoa, desconsiderando as estruturas sociais, políticas e econômicas que as permeiam.
Em reportagens, a construção das narrativas e escolha de termos costuma focar na questão da deficiência e da doença crônica como um componente de superação, coragem, heroísmo ou até mesmo piedade ou algo extremamente negativo. Segundo ela “a linguagem é uma reprodução da estrutura de poder estabelecida”, e por muitas vezes desconsidera os direitos da pessoa com deficiência e com uma doença crônica, principalmente o direito a um tratamento digno e respeitoso.
Por que é importante discutir esse assunto com os jornalistas?
Os jornalistas desempenham um trabalho de enorme alcance, levando informação e compreensão sobre diversos assuntos para seu público. Esses profissionais precisam ter responsabilidade ao falar sobre deficiência e doenças crônicas, pois a linguagem escolhida reflete as estruturas sociais envolvidas na comunicação.
“A partir do momento que você entra em contato com uma perspectiva que coloca uma pessoa com deficiência ou com doença crônica num lugar de sujeito de direitos e consegue possibilitar uma identificação com o público, que, mesmo não tendo uma deficiência ou doença crônica, pode se reconhecer na fala do outro, porque consegue reconhecer a humanidade do outro, você está rompendo com um ciclo de invisibilidade, violência e negação de direitos”, diz Vitória.
Além disso, abrir espaço para esse diálogo não deve ser apenas pauta das editorias de Diversidade e Inclusão. Para Vitória, “É super importante que a gente tensione e faça uma reflexão crítica sobre as estruturas de poder [capacitistas], porque elas não são direcionadas apenas a pessoas com deficiência. Elas atuam também em relação a gênero, sexualidade, raça…”
“A gente precisa entender que toda essa estrutura que nos afasta enquanto pessoas com deficiência também afasta mulheres, LGBTQIA+, pessoas negras e pessoas indígenas na garantia de seus direitos”, diz ela.
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