Empresas que adotaram trabalho remoto para salvaguardar a saúde dos funcionários e manter a operação em meio à covid-19 usam lições aprendidas para aperfeiçoar o modelo, avançar com a transformação digital e inaugurar novas formas de gestão.
Estudo da consultoria Mercer Brasil com mais de 600 organizações no país revela que cerca de 80% adotam ao menos uma entre três modalidades abordadas no estudo – jornada flexível, home office e trabalho remoto, delimitadas conforme a frequência com que o funcionário distribui sua jornada entre os ambientes de casa e do escritório.
Rafael Ricarte, líder de produtos de carreira da Mercer, diz que a ocupação do ambiente corporativo não mais voltará aos moldes de antes da covid-19, uma vez que as empresas estão constatando que podem manter e até aumentar a produtividade, entre outros benefícios do home office.
Muitas arestas ainda terão de ser aparadas, ele salienta. A pesquisa mostra, por exemplo, que apenas 13% das empresas com home office ofereceram aos empregados subsídios como notebook, celular e acesso à internet. Somente 6% deram ajuda de custo para esse fim.
Garantir essa infraestrutura foi desafiante até mesmo para empresas globais de tecnologia, como a Indra, que colocou em trabalho a distância três mil profissionais da sua linha de terceirização de processos de negócios (BPO, na sigla em inglês), por meio da qual assume serviços de retaguarda (back office) de clientes corporativos.
Israel Garcia Hernandez, líder de operações de BPO da Indra no Brasil diz que, de início, a empresa teve de configurar notebooks e desktops dos próprios funcionários. “Houve falta de estoque entre fornecedores locais.” Superada essa fase, máquinas corporativas já respondem por 98% do parque instalado pela Indra nos domicílios dos funcionários.
Na NICE, fornecedora global de soluções de software, Luiz Camargo, vice-presidente para América Latina, observa aumento significativo da demanda por soluções que agilizam a migração de centrais de atendimento para home office. A resposta da fornecedora para esse cenário é a plataforma para atendimento multicanal CXone@home,
com custos que variam conforme a quantidade de recursos contratados. “Com US$ 80 por agente, uma empresa já pode ter a solução básica rodando em nuvem pública”, diz Camargo. Um caso de referência é o projeto da Icatu Seguros, que usou a tecnologia para, em 72 horas, transferir para trabalho remoto a maioria dos 150 funcionários de seu contact center.
Na Stefanini, multinacional brasileira de tecnologia, 90% dos 14 mil funcionários estão atuando de casa. O vice-presidente global de gente e cultura do grupo, Rodrigo Pádua, diz que, desde o início da pandemia, houve melhora nos índices de qualidade do serviço medido pelo cliente, engajamento do funcionário e produtividade.
A experiência positiva impulsionou a grupo a avançar com o projeto “Stefanini Everywhere”, que manterá 50% da força de trabalho em casa após a pandemia.
O projeto contempla home office total, parcial e flexibilidade de horários, e leva em conta o interesse do funcionário e as mudanças ao longo de sua vida. “Uma pessoa solteira que prefere ficar no escritório pode mudar de ideia ao ter filhos, por exemplo”. A iniciativa também prevê onboarding digital, processo pelo qual entrevistas, testes e admissão de profissionais ocorrem a distância. “A meta é contratar pessoas para trabalharem a partir de suas casas mesmo em cidades onde não temos escritório.”
Também no segmento de pequenas e médias empresas (PMEs) a covid-19 e o trabalho remoto têm sido transformadores, na visão de Fabiano Sant’Ana, consultor para novos modelos de negócios. “PMEs tradicionais agora têm perspectivas que nem sequer enxergavam antes. Muitas já buscam uma cultura de mentoria nos moldes das startups.”
Na Indústria Fox – empresa de Cabreúva (SP) que faturou R$ 30 milhões em 2019 com negócios de reciclagem, eficiência energética e remanufatura de produtos da linha branca – o CEO Marcelo Souza informa que, nos últimos três meses, a linha de remanufatura cresceu 500%, puxada pelo lançamento da sua loja virtual www.tudobonus.com.br. “Conseguimos alta interação tecnológica mesmo com todos os 30 profissionais do administrativo em home office.”
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