As instituições europeias ainda não decidiram como será o processo de ratificação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. O arranjo comercial entre os dois blocos, assinado no final de junho, em Bruxelas, depois de mais de 20 anos de negociação, pode ser confirmado apenas pelo parlamento europeu ou nos parlamentos dos 28 estados membros do bloco. O rito será proposto pela Comissão Europeia, depois de análise jurídica do texto, e a ratificação é um processo político, explicou o novo embaixador da União Europeia no Brasil, o espanhol Ignacio Ybañez, que assumiu o posto há cerca de um mês.
Na sua avaliação, não se deve complicar o clima entre os dois blocos com questões que não estão no acordo comercial. “Para isso, é importante o ambiente que vamos criar. Se vamos fazer uma política de confronto, não estamos servindo ao acordo, que estabelece uma relação de proximidade entre a União Europeia e o Mercosul, em um momento em que o livre comércio está posto em questão por todo mundo”, afirmou Ybañez, ao comentar, também, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
“Claro que é um processo político, pois envolve os parlamentares que vão analisar, em primeiro lugar, pelo valor do acordo. Qualquer coisa que introduza uma dificuldade na relação entre a União Europeia e o Mercosul vai ser uma dificuldade para a ratificação. Se os políticos, que serão eleitos no parlamento europeu, começarem a fazer declarações contra o Brasil ou a Argentina, a percepção não vai ser positiva”, disse, mas destacou que os fatos são mais importantes do que as declarações, ao ser questionado, por jornalistas, sobre os efeitos de falas polêmicas do presidente Jair Bolsonaro. “Em campanha, o presidente Bolsonaro dizia que a prioridade eram os Estados Unidos, mas a primeira ação concreta foi o acordo com a União Europeia”.
Na semana passada, após a Alemanha congelar doações de R$ 155 milhões ao Brasil para projetos de proteção à Amazônia, depois de manifestar preocupação com o ritmo do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro mandou a chanceler alemã, Angela Merkel, usar o dinheiro no reflorestamento daquele país. Um dia depois da fala de Bolsonaro, o governo da Noruega tomou a mesma decisão e bloqueou repasses de R$ 133 milhões para o combate ao desmatamento, também no âmbito do Fundo Amazônia.
Dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a área desmatada aumentou 40% entre janeiro e agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em outro episódio envolvendo uma autoridade europeia, no início do mês, Bolsonaro decidiu fazer uma live enquanto cortava o cabelo em horário que estava reservado, em agenda, para um encontro com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.
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