Zurich | Brasil ainda mede pouco o custo de desastre ambiental

Fonte: Valor Econômico Posted on

Setor começa a oferecer produtos para mitigar perdas com risco climático

Ao mesmo tempo em que refletem a gravidade da crise climática, tornados, furacões, chuvas torrenciais, invernos rigorosos, desmoronamentos e alagamentos, entre outros, são exemplos de eventos e desastres naturais que têm provocado perdas econômicas globais bilionárias e prejuízos às seguradoras. “Infelizmente, esses problemas têm sido atacados de forma desordenada, ainda que existam metas para reduzir riscos climáticos”, diz Ricardo Ciardella, diretor de especialidades da corretora de seguros Marsh Brasil.

Uma pesquisa recente, que faz parte do Global Risk Report 2022, produzido pelas seguradoras Marsh e Zurich, em parceria com o Fórum Econômico Mundial, mostra que cinco das dez maiores preocupações ao redor do mundo estão relacionadas ao meio ambiente e às mudanças climáticas.

“A crise climática continua sendo a maior ameaça de longo prazo que a humanidade enfrenta. Nesse cenário, a omissão de ação pode reduzir o PIB global em um sexto e os compromissos assumidos na COP26 ainda não são suficientes para atingir a meta de 1,5ºC”, alerta Roberto Hernández, diretor executivo de seguros corporativos da Zurich no Brasil.

O impacto dessa radiografia na indústria seguradora pode ser medido pelo prejuízo de US$ 120 bilhões do setor em 2021 segundo relatório da Munich Re, uma das líderes globais de resseguros, seguros e soluções de riscos. Por falta de investimento, o Brasil não faz monitoramento de desastres naturais semelhantes, muito menos de perdas associadas a esses eventos, segundo Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora-executiva da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Solange informa que um levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), mostra que a equipe técnica emitiu, em dezembro de 2021, 516 alertas de risco de desastres de origem geo-hidrológica, como deslizamentos de terra, inundações e enxurradas em cerca de mil municípios monitorados. Desse total, 163 se concretizaram em ocorrências, mas as perdas não foram aferidas.

Ela explica ainda que um relatório de sustentabilidade da entidade, de 2020, aponta que cerca de 55% das seguradoras consideraram riscos climáticos no desenvolvimento de produtos e serviços, 45% na avaliação da exposição de suas carteiras de subscrição e 35% nas políticas de aceitação de risco e modelos de subscrição. E 30% afirmaram que consideram riscos climáticos na avaliação dos ativos para investimentos, reservas técnicas, fundos de previdência e outros recursos financeiros.

“O número ainda é baixo considerando que o setor de seguros global está na vanguarda do tratamento do tema e na inserção dos riscos associadas às mudanças climáticas nos seus modelos de negócios. Mas o Brasil ainda é mercado emergente”, diz Solange.

Entretanto, boa parte das seguradoras não têm medido esforços para melhorar a proteção que permita mitigar danos relacionados a desastres naturais. “Entender os possíveis impactos da mudança climática é essencial em qualquer companhia de seguros. Estamos ante um dos riscos mais complexos a que temos de fazer frente. Os modelos de precificação contêm informações sobre os impactos dos desastres naturais, porém, as incertezas do que pode suceder no futuro tornam difícil contar com modelos exatos de dados”, explica Hernández, da Zurich.

Em março, a Marsh lançou mundialmente uma ferramenta de classificação de risco ambiental, social e de governança para melhorar os riscos das empresas que precisam contratar seguros corporativos. “Essa avaliação mede o avanço das empresas em todas as áreas de ESG, principalmente em relação às políticas ambientais. Quanto melhor for o rating ambiental da empresa, melhor será o seu acesso ao mercado segurador”, diz o executivo da Marsh.

A Zurich, nos últimos anos, passou a incluir mais opções de coberturas e serviços relacionados a desastres naturais. Ela mantém um mapa de alagamentos e o utiliza nas análises de risco que faz para seus clientes, por exemplo.

Outro produto da Marsh relacionado ao clima é o seguro Paramétrico (vem de “parâmetro”, usado como gatilho da apólice), que tem cobertura para proteger empresas de eventos climáticos inesperados, como frio intenso, geadas recorrentes, escassez de chuvas, entre outros riscos relacionados ao clima. Para chegar a esse “parâmetro”, a companhia usa uma base de dados históricos com a maior correlação possível com a exposição da empresa ao evento climático, associando seus possíveis danos e prejuízos. “O objetivo é garantir a receita da empresa ante a possibilidade de uma intempérie climática interferir em seus resultados. Isso não vale apenas para empresas do agronegócio, mas para vários segmentos, como logística, navegação, infraestrutura, construção, entre outros”, explica Ciardella.

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